"...tenho em mim todos os sonhos do mundo..."
(Clarice Lispector)

domingo, 13 de março de 2011

O verdadeiro Príncipe Encantado

A pessoa certa não é a mais inteligente, a que nos escreve as mais belas cartas de amor, a que nos jura paixão ou nos diz que nunca se sentiu assim. Nem a que se muda para nossa casa ao fim de três semanas e planeia viagens idílicas do outro lado do mundo. A pessoa certa é aquela que quer mesmo ficar conosco. Tão simples assim. Às vezes demasiado simples para as pessoas perceberem. O que transforma um homem vulgar no nosso príncipe é ele querer ser o homem da nossa vida. E há alguns que ainda querem. Os verdadeiros Príncipes Encantados não têm pressa na conquista porque como já escolheram com quem querem passar o resto da vida, têm todo o tempo do mundo. Ouvem-nos com atenção e carinho porque querem se habituar à música da nossa voz e entram-nos no coração bem devagar, respeitando o silêncio das cicatrizes que só o tempo pode apagar. Podem parecer menos empenhados ou sinceros do que os antecessores, mas aquilo a que chamamos hesitação ou timidez talvez seja apenas uma forma de precaução para terem a certeza que não vão se enganar. O Príncipe Encantado não é o namorado mais romântico do mundo que nos cobre de beijos; é o homem que nos puxa o lençol para os ombros no meio da noite para não nos resfriarmos ou se levanta às três da manhã para nos fazer um chá de limão quando estamos com dores de garganta. É o que nos ouve falar de tudo, mesmo das coisas menos agradáveis. Não é o que diz Te Amo, mas o que sente que talvez nos possa amar para sempre. Não é o que passa metade das férias conosco e a outra metade com os amigos; é que passa de vez em quando férias com os amigos. O Príncipe que sabe o que quer, é o que olha todos os dias para nós, mas o que olha por nós todos os dias. Que quando está cansado fica em silêncio, mas nunca deixa de nos envolver com um sorriso. Não precisa do carro do ano, basta-lhe uma música best para ouvir no carro. Pode ou não ter moto, mas tem quase sempre um cão. Cozinha o básico, mas faz os melhores ovos mexidos do mundo e vai à padaria num feriado. O Príncipe é um Príncipe porque governa um reino, porque sabe dar e partilhar, porque ajuda, apoia e nos faz sentir que somos mesmo muito importantes. Claro que com tantos sapos no mercado, bem vestidos, cheios de conversa e tiradas poéticas, como é que não nos enganamos? É fácil. Primeiro, é preciso aceitar que às vezes nos enganamos mesmo. E depois, é preciso acreditar que um dia podemos ter sorte. E como o melhor de estar vivo é saber que tudo muda, um dia muda tudo e ele aparece. Depois, é só deixa-lo ficar um dia atrás do outro… e se for mesmo ele, fica. ( “Onde reside o Amor”, de Margarida Rebelo Pinto)

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